
A Juíza Tatiana Cunha Espezim aceitou a denúncia em nome da justiça e inclusive colocou o município de Navegantes como réu:
Edimara Czelusuiaki, que ocupava o cargo de coordenadora da Biblioteca na Fundação Cultural do município, fez a denúncia representando não só sua própria situação, mas também em nome de outros servidores que, segundo ela, sofreram condutas semelhantes. A denúncia revela uma série de práticas abusivas que culminaram em sua demissão no dia 29 de abril de 2025, às 11h15 — curiosamente, poucos dias após ela ter registrado boletins de ocorrência denunciando essas mesmas condutas ilegais do vereador.
Os relatos chocam: Júlio Bento teria extrapolado totalmente os limites entre a vida pública e privada, passando a controlar de forma abusiva não só as funções profissionais, mas também tentando interferir diretamente na vida pessoal da servidora. Entre as exigências do vereador estavam até com quem ela poderia ou não se relacionar — tanto no ambiente de trabalho quanto fora dele. Segundo a denúncia, a perseguição era evidente especialmente contra uma colega de trabalho de matriz africana, enquanto ele beneficiava outra servidora da mesma igreja evangélica que frequenta.
As conversas, registradas via WhatsApp e anexadas na denúncia, são claras. Em um dos trechos, datado de 4 de abril, ele diz: “Olá Edimara, você tem que estar ao lado da Amanda, não ficar apoiando a Rogéria. Já falei com você sobre isso. Não tem que ficar defendendo a Rogéria”. No dia seguinte, ele ameaça: “Quem deveria estar comigo, sendo leal, está puxando o saco de quem não devia. Tá chato, e se você continuar, vou ser enérgico na minha atitude. Faça sua escolha”.
A pressão não parava. As ameaças se intensificaram por telefone, mensagens e até com gritos presenciais, segundo relatos da denunciante. No dia 25 de abril, a pressão se concretizou: “Você passou dos limites. Estou decepcionado. Você não precisa desse emprego?”, questionou Júlio Bento. Apenas quatro dias depois, no dia 29, a servidora foi oficialmente desligada de seu cargo.
O abuso foi além. No dia 26 de abril, ao perceber que a servidora não atendia mais suas ligações, o vereador teria ligado diretamente para o marido dela, perguntando se ela havia sido a responsável por fazer o boletim de ocorrência — informação que, por lei, deveria ser sigilosa.
Além da própria servidora, outra vítima da perseguição foi a funcionária Rogéria, de matriz africana, que foi retirada do CEU das Artes no dia 17 de abril. O vereador não escondia sua preferência por uma outra servidora, que compartilha da mesma fé evangélica que ele. Segundo a denúncia, a mesma foi rapidamente colocada no lugar da funcionária transferida, evidenciando um claro favorecimento político-religioso.
“Conheço ele desde pequeno, mas nunca falei nada que justificasse o ódio mortal que ele tem por mim”, desabafa Rogéria.
Os relatos ainda expõem que Júlio Bento fazia uso de sua influência política para interferir diretamente na gestão de cargos e funções da Fundação Cultural, decidindo quem deveria permanecer ou ser transferido com base em afinidades pessoais, políticas e até religiosas — um claro desvio de finalidade do cargo público.
Edimara, que é considerada PCD desde um acidente de trabalho ocorrido em 2018, reforça que todo esse processo se agravou com episódios de discriminação relacionados à sua condição de saúde, além da perseguição política e religiosa.
A gravidade da denúncia levanta um alerta urgente sobre os limites do poder político e a necessidade de uma investigação rigorosa por parte dos órgãos competentes, como o Ministério Público e o próprio Legislativo municipal.
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